No meu caso, sou pega por um misto de sentimentos.
Celebrar casamentos é se envolver com as histórias que me são contadas, captar as nuances sendo esquecidas pela correria do dia a dia, ofertar um lugar seguro para que eles possam expressar sua admiração, reconhecer seus erros, alavancar suas perspectivas, relembrar momentos, mas também falar livremente sobre o que esperam do futuro.
Envolve ouvir, aprender, deixar com cada história flua livremente para tomar a forma que melhor acolha o casal. É sentir-se atada as histórias, que a vida gentilmente me permitiu dar uma olhada.
A minha própria experiência orienta, impossível não dizer que não nos misturamos, mas de maneira alguma determina, cuido para que a minha escuta, minha linguagem venha apenas conecta os fios soltos das histórias contadas e o tecer em uma celebração.
Sempre que tomo o meu lugar no altar, independente de onde esteja, me sinto como ao ar livre. Como se eu pudesse ouvir um som diferente de todos naquela sala, a música que toca ela é inspirada pela história que me contaram.
Algumas vezes, é possível sentir a emoção, alegria e expectativa do casal. Existe algo na maneira como olham, como se tocam, como sorriem, que traduz o relacionamento que eles têm. Outras vezes, é possível encontrar um ruído, um disco arranhado que ainda toca, que a gente guarda pelas boas lembranças, mas quase não se ouve mais a música. Esses casais estão tentando se encontrar, estão tentando agarrar a melodia que já foi tocada. Existe um certo desespero em permanecer.
Algumas vezes, não existe som. A minha boca se move, celebro, mas não possui ritmo, não possui vida. Ela se move porque estou desesperadamente tentando achar dentro deles o fio vermelho que conecta a vida, que ilumina o olhar, que aquece o ventre. A gente sente como se não houvesse possibilidade de viver sem aquela pessoa. O que é engraçado, porque a verdade do amor é exatamente ser capaz de viver sem ela e apenas escolher viver junto, de cuidar e respeitar.
Algumas cerimônias, o meu peito ferve junto. Ajudo a tocar a música. É como se naquele exato segundo, por um segundo inteiro, Deus estivesse sentado ali do meu lado, sorrindo para aquele momento, e o som fica intenso. As palavras saem quase que como uma poesia, mas não foi ensaiado, não foi planejado. A poesia brota no meu peito e começo a falar sobre a vida, sobre os sonhos, sobre o respeito, de como Deus une e atravessa distâncias, ensina nas dificuldades. E persisto na palavra: não desistam frente às dificuldades. Elas virão, mas não se permitam abalar.
Quase sinto vontade de chorar junto. Me vejo dizendo apaixonadamente que o amor não é sobre acertar sempre, deixem a perfeição para Cristo. É sobre amar tanto alguém que se busca aperfeiçoar, que diz “eu farei o meu melhor todos os dias”. É como se eu pudesse sentir cada uma dessas palavras circulando em mim como sangue, como parte da minha vida.